O Perigo Mortal da má Teologia
Quase a terminar a leitura do livro de Michael Horton, "Bom Demais Para Ser Verdade", deparei-me com um relato para o qual todos nós, cristãos, devemos atentar e tomar como alerta.
"... Existe uma batalha cósmica entre o reino de Deus e o de Satanás, e as nossas vidas fazem parte do drama que se desenrola disso. Embora não ousemos reduzir o nosso sofrimento físico ao âmbito de batalha espiritual, também não devemos perder este aspecto importante de todo o sofrimento. [...] Durante as provações, estamos num tribunal, como Jó e como o nosso Senhor, com Satanás assumindo o papel de promotor público e Cristo como nosso advogado de defesa. O objectivo de Satanás nessa disputa é roubar-nos a nossa confiança na misericórdia da vontade de Deus para connosco, enquanto o objectivo de Deus é fortalecer-nos.
Assim como as batalhas físicas envolvem batalhas espirituais, o reverso também acontece. Encontrei-me para almoçar com um jovem que me disse que, apesar da sua criação cristã e fé em Jesus Cristo, perguntava-se se era homossexual. Durante a nossa conversa ficou claro para mim que ele não era gay, mas sim um cristão que lutava contra a tentação de ceder ao homossexualismo. Primeiro, ele estava preocupado com o facto de poder ser gay. Isso é um sinal rudimentar de arrependimento diferente daqueles que se consideram gays - ou seja, que afirmam um estilo de vida homossexual. Além disso, ele professava a sua fé em Cristo, não só da libertação da culpa como também da tirania do pecado. Desejava ser liberto dessa tendência pecaminosa.
O problema, é que o seu pastor não via as coisas desse modo, dizendo ao jovem que ele tinha sido "entregue ao pecado" como Paulo descreveu a condição do coração não regenerado (Romanos 1:28). Esse pastor entendeu o termo "entregue" como referência ao desejo homossexual; enquanto Paulo, na verdade, estava a tratar a homossexualidade (Romanos 1:24-27) como um exemplo do que se torna socialmente aceitável quando o conhecimento de deus é ofuscado. Noutras palavras, de acordo com Romanos, "entregou" não descreve os que lutam contra a homossexualidade; pelo contrário, a homossexualidade é um exemplo daquilo que se torna aceitável quando rejeitamos a Deus. A propósito, Paulo menciona também a avareza, maledicência, desrespeito e maldade de coração entre outros pecados semelhantes (1:29-31).
Este jovem, claramente, não rejeitava Deus, mas o seu pastor rejeitou-o, embora ainda não o tivesse excomungado oficialmente. Tristemente, os seus pais, líderes no apoio de causas conservadoras de "valores da família" estavam envergonhados do filho, e aceitavam totalmente o veredicto do pastor.
[...] O que esse jovem mais precisava era de absolvição - a constante afirmação e segurança de que os seus pecados foram perdoados pelo amor de Cristo. Somente o perdão pode trazer-nos de volta ao arrependimento que é evangélico (ou seja, de boas novas) em vez do mero arrependimento legal (ou seja, produzido pelo medo). Ele acabou por se mudar para os escritórios da nossa organização na Califórnia, servindo como voluntário para ajudar outros a encontrar essa maravilhosa graça.
Voltando para casa após um ano connosco, ele encontrou-se mais uma vez na armadilha do ciclo de condenação-culpa-transgressão. Acabou por tirar a sua própria vida. [...] ele permanece para mim como um símbolo da tragédia da má teologia, e das tragédias por ela produzidas de maneira prática. Precisamos de reconhecer, repetidas vezes, que é somente o evangelho - ver Cristo no seu ofício salvador - que pode dar-nos fé e obediência autêntica. Os mandamentos e as advertências fazem parte da Escritura; temos de as reconhecer, pois quando o fazemos conhecemos mais profundamente a nossa necessidade de Cristo. Mas, oa mandamentos e as advertências - mesmo quando apresentados de forma polida como sugestões de ajuda - não podem insuflar as velas do nosso barco com fé, amor e esperança. Sem o evangelho, a lei é um fardo terrível que nos conduz ao desespero ou então à desilusão da auto justiça.
[...] o conhecimento da verdade é uma questão de vida ou morte. A má teologia pode, literalmente, matar alguém fisicamente, assim como tira a vida espiritual de tantas pessoas. A sã doutrina não é, como muitos presumem hoje, uma distracção da vida verdadeira de discipulado cristão, mas sim, preparação para essa vida de discipulado."